Mangueira Palácio do Samba - A História da Construção


O Texto abaixo foi transcrito na íntegra (se tiver algum erro de português, acento, ou digitação, é como está no jornal) - O mesmo foi publicado no jornal "O Dia" de 06/07 de Fevereiro de 1972 - Página 6 - Caderno D.
Palácio do Samba A História da Construção

Para alegria geral aí está a nova sede da Estação Primeira, como todo conforto e luxo para os foliões cariocas, fruto de um trabalho profícuo de homens capacitados, simples e honrados, que dedicam suas vidas em prol do desenvolvimento do nosso samba, da música popular brasileira, do brilhantismo cada vez maior, do Carnaval do Rio.


A MANGUEIRA É DA MANGUEIRA

Dizer hoje o que é o novo Palácio do Samba não é novidade. O bom é relatar toda história que teve seu início no primeiro sábado de Janeiro de 1970, num dos grandes ensaios da Verde-e-Rosa.

Gente de todas as camadas sociais, autoridades, turistas se misturam num bloco só na quadra, enquanto do lado de fora filas intermináveis. Dois homens ali permaneceram até o sol raiar. Ciro Ramos e Raymundo de Castro, dois Baluartes desta jornada.

Os dois riam satisfeitos com o lucro, mas não com a recepção que a Mangueira oferecera aos visitantes.Calados, um olhando para o outro. Que festa, quanta gente. A Mangueira cresceu demais, seria o assunto.

Todos se retiraram e ao chegar a vez do Ciro, Raymundo de Castro, atual tesoureiro, dissera: "Vamos, nós temos que estudar uma forma de construir uma nova quadra, porque do Contrário, ninguém vai mais querer voltar aqui pelo desconforto e falta de organização".

No dia seguinte, Ciro e Raymundo já estavam com mais dois dirigentes da escola, Eugênio Agostini e Renato Xavier falando sobre o problema.

Em menos de 72 horas os quatro já estavam reunidos com os arquitetos Sabino Barroso e José Leal, ambos conhecidos de Eugênio e Renato, desde a inauguração de Brasília, onde trabalhavam na equipe de Oscar Niemeyer.

FEIJOADA

O primeiro passo foi organizar uma feijoada na quadra para levarem os dois arquitetos. Coisa muito normal nas escolas, e a Maria se encarregou.

A quadra encheu de dirigentes e componentes, e os dois convidados já estavam.

O motivo era a feijoada, mas por detrás de tudo estava problema: a construção.
Os dois visitantes sentiram de perto a situação da escola e as dimensões do terreno, sem darem uma só palavra.
Outras vezes voltaram à Mangueira, e nem o pessoal da diretoria em peso sabia do que se tratava.

Os homens fizeram os planos e numa reunião apresentaram o primeiro projeto.
Foi a primeira explosão oficial, isto é, do conhecimento de todos. Na base da cara e da coragem, foi logo nomeada uma comissão de obras, com Eugênio Agostini na presidência e mais os diretores Ciro Ramos, José Ramos, Alcyone Barreto, Mário e José
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ANGU

Foi armada, então, outra remandiola, desta feita para o então Secretário de Obras na Casa de Renato Xavier. Tinha de explicar o plano e pedir a orientação daquela autoridade.

As mulheres ofereceram um angu à baiana, e os homens um autêntico "show" de composições famosas da Mangueira.

O Secretário Dr. Paulo Soares, ouviu tudo e declarou: "Mandem brasa. Podem construi." Já no dia seguinte Ciro Ramos queria iniciar a obra, mas o presidente da Comissão ponderou dizendo que primeiro teriam que ve a situação do terreno. Descobrir o processo que estava na Justiça, onde o proprietário do terreno, Sr. Milton Pinheiro, tinha recorrido contra o Estado que havia doado aquela área à Mangueira.

O negócio parecia se complicar, e então armaram outra remandiola, desta feita para o ex-Governador Negrão de Lima, no Clube Monte Líbano.

FESTAS

Xangô, diretor de harmonia, foi encarregado de montar um "show" com os grandes valores da escola. Era o segredo do impacto. Acertaram a data 31 de Julho de 1970.

Convidaram elementos gabaritados para colaborar, como Hermínio Belo de Carvalho, para fazer o "script", Eduardo Sidney e Paulinho Soledade.

Reuniões successivas no escritório de Eugênio e a relação das autoridades convidadas para a festa.

Sabino e Leal mandaram fazer a maquete da nova sede e eles próprios tiveram o cuidado de pregar os quadros fotográficos que Afonso alcazar e Eduardo Castier ofereceram à Estação Primeira sobre o projeto.
Rute Leal também colaborou.

DECEPÇÃO

O início da festa foi uma decepção. O coquetel não saiu como eles esperavam, e um discurso que um casal de criança ia ler para o Governador Negrão de Lima, que pedia a desapropriação do terreno, foi rasgado pela Comissão de Obras , que já estava quase chorando. "O homen não pode vir, não precisa de discurso", foram as palavras de Ciro. A festa, porém, foi prosseguindo.

Xangô comandava o espetáculo com o Trio Pandeiro de Ouro, e os salões iam enchendo.

Lá já estavam Erasmo Martins Pedro, vice-governador atual; Nelson Carneiro; Deputado Federal, Waldomiro Teixeira; Ruy Pereira da Silva, na época diretor do DOI; Sr. Vilas Boas, presidente da COHAB; o representante do Sr. Newton Rique, do Banco Industrial de Campina Grande; o gerente Alexandre da Fonte; Sr. Marcílio Marques Moreira, do grupo Moreira Sales; Sr. Eduardo de Oliveira Pena, Diretor do BNH, que foi o último a sair da festa e quis saber de tudo sobre a Mangueira. no final, falou: "Deixem comigo. Vou solucionar o problema do terreno e da construção". Para alegria geral...

Alí mesmo o Sr. Eduardo fez um pedido à turma: "quero todo este "show" no Iate Clube onde teremos uma reunião de confraternização dos dirigentes do BNH com autoridades do sistema financeiro dos EUA.

Houve o babado, a Mangueira voltou a se apresentar e conquistou mais autoridades. Alcyone descobriu na COHAB o processo e a situação era uma: a Mangueira tinha de comprar o terreno.

A Comissão de Obra se reuniu com o proprietário do terreno acertaram a compra. Tudo andava para a frente e logo reuniões sucessivas com os arquitetos, juntamente com os banqueiros.

Para o Sr. Eduardo de Oliveira Pena, o tesoureiro Raymundo de Castro fez uma explanação geral do sistema financeiro.

Diretor-PresidenteDonald stuart, antes de falar em cifras, declarou: "Vocês podem deixar que essa obra eu faço questão de fazer". Tava tudo jóia.

A Mangueira tinha naquela altura uns 100 mil cruzeiros em caixa, mas Raymundo de Castro garantiu aos homens que depois do carnaval o negócio chegaria a uns 200 mil, e não deu outro bicho.

Em dezembro o Sr. Eduardo Oliveira Pena fechou o negócio. Oitenta mil à vista e 122 mil financiados.

A MANGUEIRA É NOSSA

Nem todo mundo da Mangueira ouviu as palavras de Raymundo de Castro, no dia em que Djalma assinou a escritura de compra do terreno. Mas lá estava Zica, CartolaJosé RamosCarlos Cachaça toda a Comissão de Obra.

Eugênio, eufórico, declarou: "A Mangueira é da Mangueira". Lágrimas de Zica, e os mais velhos fechavam a cara para não chorar de emoção.
Rui Pereira da Silva, presente ao ato, exclamou: "Será o primeiro Palácio do Samba".

INÍCIO DAS OBRAS

Depois de algumas remandiolas, como diz o Xangô, entre SURSAN, Divisão de Planejamento e os homens da Secretaria de Obras, Leal e Sabino entram na quadra dirigindo um trator e logo o fato é comemorado em todas as biroscas do morro.

A ECISA oferece uma feijoada aos mangueirenses e inicia-se a obra. Para alegria geral...

INAUGURAÇÃO

Tudo dentro das linhas mais modernas da arquitetura, e dotadas de todo conforto, com ar refrigerado, telefones até nos banheiros, pátio de estacionamento para carro, elevador, luz para televisão a cores, cabinas para rádios, imprensa, convidados, autoridades, pista de dança e tudo que se possa imaginar.

Obra que chegará a um bilhão e meio antigos, um arrojado empreendimento, de homens humildes, simples, mais honrados, como Djalma dos Santos, o grande executor desta apoteose que é hoje a quadra da Mangueira, na Rua Visconde de Niterói, 1.062, cuja inauguração está prevista para estes dias. Para alegria geral...

O Texto acima foi transcrito na íntegra (se tiver algum erro de português, acento, ou digitação, é como está no jornal) - O mesmo foi publicado no jornal "O Dia" de 06/07 de Fevereiro de 1972 - Página 6 - Caderno D.
NOTA:
1) No livro "Mangueira Paixão Verde e Rosa", pág. 176, diz que a compra do terreno foi realizado devido um empréstimo feito junto ao Banco Industrial de Campina Grande. O que não é verdade.
- A verdade é que este dinheiro saiu dos cofres da Escola. Tendo eu confirmado ao Dr. Oliveira Pena que poderíamos comprá-lo à vista, pois tínhamos Cr$ 180.000,00 em caixa, mas ele e o Eugênio, acharam por bem comprá-lo a prazo.

2) Pela primeira vez a Mangueira terminou o Carnaval com dinheiro em caixa: 200 mil cruzeiros, de onde saiu o sinal de 80 mil cruzeiros para a compra do terreno.

- A promessa da Diretoria do Banco Industrial Campina Grande, seria financiar a obra, o que não aconteceu.

- O financiamento da construção foi feito pela COFRELAR, conforme escritura arquivada no Registro de Imóveis.

LINK: Cópia do Registro de Imóveis:  AQUI.

3) Nesta obra de construção da Quadra, fizemos a estrutura para receber mais um andar, prevendo a construção no futuro, do 3º pavimento.

FOTOS:
Assinatura da escritura de Compra e Venda do terreno para a Construção do Palácio do Samba
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  F 01: Raymundo de Castro - F 02: Djalma dos Santos, Raymundo de Castro e Convidados.


PALÁCIO DO SAMBA: A HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO



Cesar Romero e Raymundo Baluarte da Mangueira Mauro Alburquerque Baluarte Gerson Sammartino
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© Autor: Raymundo de Castro - 2017. Todos os direitos reservados.
Personalizado por: José Milton A. de Castro |
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