Mestre Tinguinha.


Graças ao Tinguinha e ao Sinhôzinho, acabei
ingressando na Escola de Samba Estação Primeira.



Em um dia do ano de 1959, após o carnaval, fui "abordado" na entrada do "Buraco Quente" pelo os dois, que apelaram pelos meus sentimentos, lembrando que eu era nascido e criado no morro e que apesar de acompanhar, não participava ativamente da vida do Grêmio, me relataram a deficiência que se tinha em fantasiar os componentes da Bateria e me convidaram para ajudá-los a fundar a Ala da Bateria, ao aceitar, passei a conviver com essas duas pessoas que estão no meu pensamento a todo momento.

Quero falar-lhes do amigo Homero José dos Santos (Tinquinha), que dentro da sua simplicidade, foi um verdadeiro líder, coordenando, comandando, conciliando para atingirmos o objetivo de todos, que é o engrandecimento do Grêmio.
Os motivos que determinaram a sua vontade em fundar a Ala da Bateria, está transcrito em seu depoimento dado a revista "Paixão em Verde e Rosa", como segue:
- "Eu já saia na bateria havia muitos anos. A Mangueira era muito boa de ritmo, mas a indumentária era um problema. As vezes em cima da hora do desfile a gente tinha de pintar os tênis, porque cada um era de uma cor. Decidi que a gente tinha de fazer alguma coisa.

Na concentração a gente reparava que os ritmistas da Portela e do Serrano estavam bem vestidos. Na hora do desfile, conseguíamos recuperar a diferença no ritmo, não perdíamos ponto, mas ficava esquisito desfilar sem uma indumentária caprichada".
Para se ter uma ideia, eu assisti a distribuição dos tecidos aos componentes para confecção da fantasia de cada um. Foram dias de angustia e tensão, pois estava se aproximando o dia do desfile e Francisco Ribeiro (Chico Porrão), ainda não tinha conseguido numerário para compra dos tecidos.

Segundo informação me dada na época, ele era um torcedor fanático do São Cristóvão de Futebol e Regatas e tinha dado uma ajuda financeira ao Clube, pondo em segundo plano, a compra dos tecidos da Bateria, eis o motivo da demora.
- Os ritmistas se concentraram no armazém desativado do meu pai, na entrada do Buraco Quente, aguardando que o Beleleu acordasse para distribuir o tecido, quando chegou um "camburão" e policiais começaram a deter diversos componentes.

Ao ver o que estava acontecendo, tomei a iniciativa de conversar com os policiais, pois se os levassem presos, a bateria ficaria incompleta para o desfile, (na época, vadiagem eram trinta dias de detenção).

O detetive que comandava a equipe e me conhecia por ter sido comerciante no local, anotando o nome de cada um, os liberou. Ao acordar, Beleleu sem tomar conhecimento do acontecido, fez a distribuição dos tecidos.
Na época, o componente era responsável pela confecção de sua fantasia e no figurino tinha uma espécie de gorro com diversos gomos, cada um confeccionou este gorro, a seu modo e em diferentes alturas, ficando estranho e dando motivos a chacotas.
- Este fato vivido por mim, foi um dos motivos fundamentais para juntar-me a esta rapaziada e fundar a "Ala da Bateria".
Ao fundá-la, elegemos um diretoria composta de Presidente, Tesoureiro e Secretário. Estabelecemos uma pequena mensalidade para o componente, formamos um quadro social paralelo para admiradores e colaboradores com uma contribuição maior e passamos a realizar festividades para angariar fundos.

Passamos a realizar um baile semanal em nossa sede na Saião Lobato, cobrando ingressos e vendendo bebidas, a animação ficava por conta de um trio constituído da seguinte maneira: Na bateria "Baratino", no clarinete, "Ceguinho" e no piston "Bombeiro", me desculpem, no momento só lembro dos apelidos, mas estou pesquisando para apurar os nomes de batismo dos mesmos. Todos tocavam de graça sem cobrar nada a Ala.
Um momento importante que fizemos, foi a volta da comemoração do Aniversário do Grêmio. No final, vimos o nosso trabalho coroado de exito e no carnaval de 1960, saímos com oitenta e cinco componentes, com uma fantasia que nos encheu de orgulho: Com terno, chapéu, meia, sapato e o emblema nas cores da Escola.
Bateria da Mangueira: 1º ano de desfile como Ala - 1960.

Falar do Tinguinha, não é só falar da Bateria, ele foi o introdutor do "tarol" nas Baterias das Escolas de Samba, devido a sua vivência com o instrumento em outras modalidades de acompanhamento. Segundo declaração de "Mestre Waldomiro", ele criou uma nova maneira de acompanhar a segunda parte do samba. Tinha orgulho em dizer que nunca furou, ou estourou um coro tocando o seu instrumento. Outra particularidade, ao acompanhar o samba, ele cantava, tocava e sambava.
Tarol
Era uma pessoa desprovida de vaidade e dedicada a Mangueira, por exemplo:
- Quando da sucessão do Senhor Juvenal Lopes em 1970, reunímo-nos em nossa sede social no Buraco Quente para elegermos o seu sucessor, que nos dirigiria de 1º de maio de 1970 a 30 de abril de 1972, pra se ter uma ideia, não tínhamos cadeira e colocamos tábuas sobre os tijolos para servirem de assento e a mesa era bem velha carcomida pelo tempo.
Não sei atinar quantas pessoas estavam presentes, o que sei, é que acabamos indicando para Presidente da Escola, o Senhor Homero José dos Santos (Tinguinha).

Quando ele sentiu-se eleito, surpreso, dirigiu-se a todos agradecendo a homenagem, mas solicitou aos presentes que colocassem como Presidente, o Senhor Djalma dos Santos, pois ele poderia fazer muito mais pelo Grêmio, devido ao grande conhecimento que possuía e das amizades que o cercavam.

Em consideração a sua pessoa, reconsideramos e elegemos o Senhor Djalma dos Santos, Presidente do Grêmio.
(fundo/frente) Raymundo, Seu Djalma e Tinguinha.
Uma escolha acertada, o mesmo nos deu diversos Campeonatos e construiu o Palácio do Samba.

Tinguinha nasceu em 7 de Setembro de 1918.

São passagens que guardo até hoje, desejava escrever um livro, mas conclui, que são coisas que não poderiam morrer comigo e por esse motivo, divulgo por intermédio deste meu Blog.


MESTRE TINGUINHA




Cesar Romero e Raymundo Baluarte da Mangueira Mauro Alburquerque Baluarte Gerson Sammartino
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© Autor: Raymundo de Castro - 2017. Todos os direitos reservados.
Personalizado por: José Milton A. de Castro |
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